Mesmo impedida por pressão da bancada evangélica,
a votação do projeto de lei complementar 122/06,
que criminaliza os atos de homofobia e aconteceria na manhã desta quinta-feira (12)
na Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado, teve um final tumultuado.
Durante entrevista coletiva da senadora Marta Suplicy (PT-SP)
, o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) e a senadora Marinor Brito
(PSOL-PA) trocaram xingamentos e ofensas mútuas.
Bolsonaro exibia uma cartilha do Ministério da Educação (MEC)
, expondo o Plano Nacional de Promoção à Cidadania LGBT
, que ele considera moralmente ofensivo à sociedade.
Exaltada, Marinor deu um tapa no livreto e chamou o deputado de
"criminoso". Bolsonaro retrucou chamando-a de "heterofóbica" e
ambos partiram para a discussão.
Foto: Agência Senado
A senadora Marinor Brito chamou o deputado Bolsonaro de criminoso
A pressão da bancada evangélica impediu a votação do projeto de lei
e o projeto foi retirado de pauta sem previsão de retorno. Representantes da
Frente Parlamentar Evangélica presentes à sessão pediram o adiamento
alegando que devem ser realizadas audiências públicas, porque ele não
teria sido suficientemente discutido no Congresso. "Precisamos debater à
exaustão, sem privilegiar ninguém", disse o senador Magno Malta (PR-ES).
O projeto de autoria da ex-deputada Iara Bernardi (PT-SP) tramita há dez anos
no Congresso e somente em 2006 foi aprovado no plenário da Câmara.
Relatora do projeto na CDH, Marta Suplicy queria tentar aprovar
o seu parecer até a próxima semana, a tempo das comemorações
do Dia Nacional de Combate à Homofobia, no próximo dia 17,
que vão movimentar a Esplanada em Brasília.
Marta chamou a atenção para esse momento "de maior compreensão e humanidade"
que se estabeleceu no País, a partir do recente julgamento do Supremo
Tribunal Federal (STF) que estendeu às uniões entre pessoas do mesmo
sexo os mesmos direitos e deveres dos casais heterossexuais.
"O Judiciário se pronunciou sobre um assunto que há 16 anos o Congresso
não consegue se pronunciar", completou a petista. "Esse projeto tem
a ver com tolerância, respeito e cidadania, vai ajudar a diminuir a violência
contra homossexuais", concluiu.
A proposta modifica a Lei de Racismo para criminalizar também o
s atos de homofobia, estendendo a eles as mesmas punições impostas aos crimes
de preconceito racial. O projeto pune com reclusão de um a três anos condutas
discriminatórias, como recusar o atendimento a gays em bares e restaurantes
e reprimir trocas de afeto em locais públicos, como beijos ou abraços.
O item mais polêmico pune com prisão, de um a três anos, e multa aqueles
que induzirem ou incitarem a discriminação ou preconceito contra os homossexuais.
A avaliação é de que padres e pastores serão proibidos de pregar contra a
homossexualidade nas igrejas e templos religiosos. Na sessão desta manhã,
integrantes da bancada evangélica pregaram adesivos na boca em protesto,
alegando que o projeto reprime a liberdade de expressão deles.
Para atender às reivindicações da bancada evangélica, Marta incluiu uma
emenda permitindo que todas religiões e credos exerçam sua fé,
dentro de seus dogmas, desde que não incitem a violência.
"O que temos na fé é o amor e o respeito ao cidadão.
Me colocaram que o problema não era intolerância nem
preconceito, mas liberdade de expressão dentro de templos
e igrejas. O que impede agora a votação? O que,
além da intolerância, do preconceito, vai impedir a compreensão
dessa lei?", questionou Marta.
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